quarta-feira, fevereiro 14, 2007

estupro infantil midiático

Imagine a cena:
Estava eu belo e faceiro em um dos momentos mais agradáveis que já tive até hoje a trabalho; levamos as crianças para um convescote em um belo horto florestal no coração da cidade, verdadeiro oásis de tranquilidade, o qual, diga-se de passagem, eu nunca tinha visitado.

Quando de repente... RBS TV.

Estão vindo para cá... disse alguém.

O que se seguiu foi um daqueles momentos grotescos protagonizados por uma gente muito bizarra que me fazem pensar se realmente o BEM e o MAL não existem.

Uma mulher tenebrosa com a cara rebocada de maquiagem avnçou sobre nós, arrastando um cameraman (que enfiou o aparelho em nossa cara) por um fio de microfone, e da maneira mais ARTIFICIAL imaginável, com um tom de voz altíssimo, se lançou fazendo umas perguntas ridículas sobre coisas sem importância. A fisionomia dela era assustadora. Não sei nem descrever, mas a falsa simpatia dava arrepios.

A abordagem blitzkrieguiana foi tão agressiva que de início até nós, os três adultos, ficamos meio que paralisados, meio que respondendo, meio que não. Mas o pior vem agora. Foi quando eles atacaram as crianças.

Ela chegou em três meninas e disse: "DIGAM: E O TEMPO, COMO VAI SER?" ou algo do gênero; aparentemente era uma chamada para a previsão do tempo.
Ela assediou tanto as meninas para falarem, e de uma maneira tão agressiva, que eu falei: "ó meninas, não precisam falar se não quiserem..."
Ela riu: "HAHAHAHA!"
Na seqüência, fez cara de séria e muito sensível ao que estávamos sentindo: "É verdade, não precisa... NÃO VOU BOTAR DE CASTIGO, NÃO VOU TIRAR A COMIDA!!!!!!!" Num crescendo muito ameaçador.
As meninas fizeram.

Partiu então para cima do menino, que falava com mais desenvoltura. Ele deveria dizer: RODA O MAPA!!, logicamente sorrindo e amando muito tudo aquilo.
De novo. Mais bonito. Agora olha para a câmera. Sorria DE NOVO. DE NOVO. DE NOVO!!!!!!! AAAAAAAAAAHHHH!!!!!!!!!!!!!!
(Assim, no mais, nem disse que mapa que era, na piorzíssima das hipóteses)
Umas dez vezes em dez segundos. A velocidade das repetições era algo que visivelmente não favorecia a execução da fala. Acredito que seja assim executado deliberadamente para que a pessoa não tenha nenhum tempo para pensar em desistir de fazer aquele papel ridículo. Acredito, também, que deva existir uma caralhada de psicólogos na empresa que ficam só bolando estratégias maquiavélicas que serão aplicadas nas ruas para que se possa tirar o máximo das vítimas, do tipo: "olha, quando tu for abordar alguém, nem te apresenta, nem fala nada, cai de pau direto, sobe em cima se precisar. depois, se for mesmo necessário, diz, sei lá... se eles autorizam ou não ou qualquer coisa assim". Realmente vampirescos (valeu, Fabião!).

Nessa hora eu já tava de pé, o sangue me subindo.
Tentei apelar para uma espécie de bom senso: "Chega, tá atucanando o guri!". Não havia nada de bom ali. A piranha respondeu: "Não tô não, ele tá gostando. Não é??? NÃO É???"
Puta que pariu, eu tenho que aprender a ser mais veemente sem descambar para o baixo calão, porque nessa hora tudo que era nome tava me passando pela cabeça para descarregar na mulher. Além disso, fiquei meio num dilema do tipo: "pô, sei lá, não vou vetar o lance assim, nós sempre tentamos dar o máximo de espaço para as crianças exercerem sua autonomia e tal... criança deve gostar de aparecer na TV, vai ver que pra eles tá legal...

Maldito dilema...

A única coisa massa que teve foi que o guri, quando tava sendo filmado, tirou uma onda com a mulher. Ficou repetindo o que ela falava e tal...

O modo como se aproximaram de nós foi extremamente agressivo, coercitivo e sem noção. Assediaram crianças com os instrumentos de poder da mídia simplesmente para preencher as gretas da programação. Além disso, estragaram um pedaço do nosso convescote (o rango não me caiu tão bem depois...).
Não disseram o nome, não disseram o que estavam fazendo, usaram as crianças (e nós) e foram embora sem mais nem menos. A sensação que ficou foi de uma espécie de estupro.
Não bastasse toda essa falta de ética, no final ainda colocaram uma cereja em cima: pediram autorização de veiculação de imagem (verbalmente) para as próprias crianças, lançando na nossa esse papo propositalmente falso, para ver se a gente caía.

Depois ficamos conversando sobre tudo isso e várias idéias maravilhosas e muito válidas vieram à tona, do tipo (valeu, Liz!): "vamos mostrar a bunda para a câmera!" e fizeram com que voltássemos ao normal.

Vou te falar mais uma coisa, já fazia um bom tempo que aquele jornal do almoço tava me dando nos nervos, com aquele Mário Motta moralista safado fazendo aquelas carinhas de muy amigo e seus Prates da vida. Lixo puro. Faz mal. Agora, então, que eu presenciei o modo como as coisas funcionam por tras das mil faces de Mário "vamos fazer uma boa tarde?" & cia não suporto mais ver mas nem pintados de ouro.

Esqueci de algo?
Comentários, por favor.

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

que experiencia! Nao sei se teria tempo pra reagir no momento, mas sentindo a raiva que senti ao ler, acho que teria me metido na frente e levado as criancas longe. Esses joguinhos da RBS me dao nos nervos. Jornalistas que se acham poetas, catando rimas idiotas pra terminar com climinha feliz. O objetivo nao eh a noticia, mas o entretenimento. Nossa! Tinha esquecido dessa bosta.

5:43 AM  
Blogger spuldar said...

Infelizmente, meus amigos, esse é o meio em que eu convivo. Pessoas que - como bem disse o Gúi - estupram os pobres seres normais com seus microfones, tentando extrair verdades e mentiras das suas bocas, só pra preencher aqueles espaços que existem entre os intervalos comerciais. Ainda bem que não são todos os jornalistas que agem assim - mas boa parte deles age, só pra garantir que sua cara maquiada apareça uns 30 segundos a mais na telinha (vejam aquele filme do gus Van Sant com a Nicole Kidman... ele força a tanga um pouco, mas mostra como funciona esse mundinho).

Como diria o Garganta Profunda, personagem do "Todos os Homens do Presidente": "Eu não gosto de jornalistas. Não tolero superficialidade e falta de precisão".

Xuxinas

9:38 AM  
Anonymous Anônimo said...

P jornalismo em si nao tem culpa das distorções, existe um código de ética, quase nunca respeitado, porém é triste o que se ve por ai mesmo.
Fernando Sonntag - Estudante de Comunicação social.

2:05 PM  
Blogger Liz Tessmer said...

Imobilizada por uma manipulação baixa sem qualquer preocupação..eram mesmo seres humanos?? deu tanta raiva que paralisei, minha cabeça só pensava...fica a lição e a lembrança da podridão da tv brasileira. Dói sentir o estupro na pele. Grande texto Gúi, valeu sua iniciativa!!

3:17 PM  

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